Um volteface ou um golpe de mestre?

No dia 16 de Junho a Microsoft foi aceite como patrocinadora do The Open Source Census (OSC). A notícia foi recebida com muitas reservas e desconfianças por parte da comunidade de software livre e já há quem ponha em causa a credibilidade do projecto OSC, que arrancou em Janeiro de 2008 e tem por objectivo medir o uso do Open Source nas empresas.

The Open Source Census

Mais sobre The Open Source Software Census

O grande objectivo é conhecer os níveis de adopção do software livre nas empresas e contribuir para o aumento do seu uso nesses meios. Para consegui-lo, não são feitas recolhas de dados em formato tradicional, mas através de um software que foi especialmente criado para esse efeito e que o faz automaticamente – OSS Discover.

Cada colaborador do projecto recebe o software que realiza um “scan” às máquinas de uma dada empresa. São apenas recolhidas informações dos pacotes de software utilizado, seja em ambiente Windows, Linux ou outro. Esses dados são depois colocados na Base de Dados geral, sem que seja possível associar a un IP, empresa ou nome específico. Os colaboradores têm acesso privilegiado aos dados e podem realizar benchmarking.

Argumentos a favor… argumentos contra e linhas de actuação

Os argumentos podem ser palavras de força, se apoiadas em condutas coerentes, ou palavras ocas, se não têm, nem no passado recente nem longínquo, práticas condizentes.

Vejamos os argumentos a favor. O projecto OSC é global e colaborativo, aberto a qualquer participante, pelo que a entrada da Microsoft não deveria motivar qualquer oposição da comunidade de Open Source.

Outros argumentos a favor da Microsoft: tem toda a legitimidade de apoiar e participar nos projectos que bem entender e tem o direito a rever a sua estratégia quanto ao software livre. Linus Torvalds sempre disse que a Microsoft poderia ter a sua própria distribuição Linux.

A nota oficial sobre esta iniciativa é a de que o OSC ganha com a heterogeneidade dos participantes e a de que a Microsoft está genuinamente interessada no projecto, porque existem muitos pacotes de software livre que correm em Windows.

Que atitudes recentes da empresa sustentam este súbito interesse pelo Open Source? Talvez um outro facto mediático: recentemente, a Microsoft apoiou o SourceForge.com 2008 Community Choice Awards…

As vozes do contra é que não se calam e as práticas parecem dar-lhes razão.

A “teoria da conspiração” é certamente argumento de filme, mas é legítimo questionar as boas intenções da Micosoft ao aliar-se a este projecto. Se a ideia é cair nas boas graças da comunidade Open Source, o melhor a fazer seria escrever código aberto. Se a intenção é entrar no “negócio” do software livre, então o melhor seria criar software com código aberto. Os mais cépticos vêem neste patrocínio uma forma da empresa ter acesso a dados e conseguir uma base para atacar legalmente empresas e produtos de software aberto mais populares.

Os factos e as práticas recentes apontam para isso: a Microsoft acusa o Open Source de violar 200 das suas patentes.

Juízo de cada um

Quando se lê uma notícia como esta, é difícil esquecer que a Microsoft é uma empresa de código proprietário, que sempre atacou como pôde os seus competidores directos, que abusou e abusa da posição dominante no mercado (multa da União Europeia) e que, recentemente, sujeita a própria indústria do hardware às suas regras e interesses.

O consumidor Windows beneficiaria se houvesse mais bom senso na abordagem da dupla proprietário Vs. livre e a comunidade de open source teria a beneficiar com um participante de peso como a Microsoft.

A solução proprietária e a solução livre não têm que estar em conflito, têm que saber adequar-se e deixar a escolha ao consumidor.