Tempos modernos

Já há algum tempo que sinto um misto de entusiasmo e inquietação em relação à Internet e à forma como influi na vida das pessoas, das empresas e das instituições. Ao deambular pela Rede, descobri Digital Etnography. Trata-se do trabalho de um professor da Universidade do Kansas –Michael Wesch– que está a realizar, a meu ver, uma análise e crítica excelentes a estes temas com os seus alunos de Antropologia cultural.

Materializam frequentemente o trabalho em forma de vídeos que disponibilizam no Youtube. O curioso é que este canal de partilha e difusão é ele próprio objecto de um projecto de estudo. Nele contam a história do Youtube, tentam perceber por que razões as pessoas usam o Youtube, etc.

Da colecção de palestras e vídeos, destaco um sobre a mudança de paradigma de informação –chamado Information R/evolution— que de uma forma muito criativa e clara mostra o quão modificaram as maneiras de organizar, editar, classificar e recuperar a informação.

Deixo aqui para visualização, um outro vídeo que explica a web 2.0 com a sua característica multidão de tags, vídeos, fotos; elementos que são cada vez mais recombinados em aplicações “mashup”. Na música, por exemplo, é habitual um serviço usar a Wikipedia para apresentar o artista, a base de dados Leo Lyrics com as letras das músicas, os vídeos do Youtube desse artista, as fotos do Flickr, as playlists do Last.fm e… tudo o que a criatividade e o engenho permitirem. Esta nova relação com a informação, com o mundo, com as pessoas e connosco, exige que tudo seja REdefinido.

Finalmente, impõe-se este vídeo em que os alunos são objecto e sujeito da reflexão. Não há retórica balofa, apenas o desfiar de uma realidade que pressentimos e reconhecemos. Turmas grandes, professores que não sabem o nome dos alunos, leituras obrigatórias que não são feitas, reduzido nº de livros lidos ao ano contra os milhares de páginas web ou perfis do Facebook lidos nesse mesmo ano. É um ensino ainda nos moldes do século XIX (no qual toda a informação estava estruturada, era escassa, naturalmente fiável e cujo acesso era geralmente mediado) que tem de confrontar-se com uma realidade radicalmente diferente, composta por um universo informacional vasto e não mediado e por uma geração 100% digital.